Saiba a origem de algumas das crendices mais populares: pé de
pato, mangalô, três vezes! - o modo como elas influenciam nossa vida até
hoje.
Por.: Sheyla Miranda - Revista Mundo Estranho
Por.: Sheyla Miranda - Revista Mundo Estranho
Quem nunca bateu na madeira três vezes
para afastar o azar que atire a primeira figa, patuá, ferradura ou
outro amuleto que o valha! As superstições existem desde que o homem se
entende por homem. Embora não haja comprovação científica de que
realmente funcionem, crendices de toda sorte resistem até hoje. E,
acredite, elas podem não só ter influenciado como garantido a própria
evolução humana. "Nos primórdios, indivíduos que faziam associações
entre causa e efeito, mesmo sem embasamento racional - ou seja, eram
supersticiosos -, tinham mais chance de sobrevivência", diz o biólogo
americano Kevin Foster, da Universidade Harvard. "Algumas dessas
associações acabaram protegendo esses indivíduos de certos perigos." Por
exemplo: sempre que ouvia um barulhão na floresta, um grupo que
imaginava se tratar da aproximação de predadores ou de demônios acabava
fugindo dali. Na maioria das vezes, era apenas um estrondo qualquer,
como o som de trovões. Porém, quando se tratava de fato da aproximação
de um bando de leões, os "supersticiosos" já não estavam ali para virar
comida. Ao longo dos séculos, essa mania de fazer relações entre causa e
efeito teria se arraigado em nosso comportamento. "Um atleta
supersticioso, que recorre a um amuleto antes de competir, se sente mais
confiante e pode se sair melhor. Caso esqueça o talismã, pode ficar
inseguro e ter um desempenho ruim", diz o professor Antônio Carlos
Pereira, do Departamento de Psicologia da PUC-SP. Veja a seguir como
surgiram algumas das superstições mais populares do mundo. E - toc, toc,
toc - boa sorte!
QUEBRAR ESPELHO DÁ AZAR.
Entre os antigos gregos, um popular
método divinatório consistia em usar uma tigela com água para refletir a
imagem da pessoa que queria saber sobre seu destino. Se, durante a
consulta, o recipiente caísse e quebrasse, era sinal de que a pessoa
morreria ou teria dias nebulosos pela frente. Os romanos adaptaram o
oráculo grego e acrescentaram que o infortúnio se prolongaria por sete
anos, tempo que duraria cada ciclo da vida. Quando os primeiros espelhos
de vidro surgiram, ainda na Idade Média, a superstição passou também a
ter função econômica: como eram objetos muito caros, os empregados eram
avisados de que quebrá-los dava azar.
TREVO-DE-QUATRO- FOLHAS DÁ SORTE.
Acredita-se que os primeiros a usar o
trevo-de-quatro-folhas como talismã tenham sido os druidas, antigos
sacerdotes celtas, ainda no primeiro milênio a.C.: quem tivesse uma
dessas plantinhas conseguiria enxergar demônios na floresta e, assim,
escapar deles. O poder do trevo viria de sua raridade na natureza - em
geral ele tem apenas três folhas. Além disso, o quatro era tido como um
número cabalístico: são quatro as estações do ano, os pontos cardeais,
os elementos alquímicos (água, ar, fogo e terra) e as fases da Lua.
NÃO PASSAR DEBAIXO DE ESCADA.
De acordo com uma das teorias sobre a
origem desta superstição, ela viria da associação entre o dogma cristão
da Santíssima Trindade, que jamais deveria ser violado, e o triângulo
formado pela sombra de uma escada encostada numa parede. Passar debaixo
da escada seria como profanar o triângulo sagrado, um pecado gravíssimo e
de consequências funestas. Outra hipótese é a de que a crença tenha
surgido na Europa medieval, por causa dos ataques aos castelos. Como os
invasores utilizavam escadas encostadas nos muros para invadir as
fortalezas, a principal defesa era derramar óleo fervendo sobre os
inimigos. Ou seja, quem estivesse debaixo da escada podia receber um
banho fatal.
ORELHAS FERVENDO.
Não se sabe ao certo quando surgiu a
crença de que, se alguém estiver falando mal de você, suas orelhas
"pegarão fogo". Mas, ainda em meados do século 1, o historiador romano
Plínio, o Velho, tentou achar uma explicação. Para ele, a origem da
superstição estaria ligada à ideia, difundida na época, de que no ar
existiria uma espécie de "mercúrio universal", substância que permitiria
a transferência de energia entre pessoas. Assim, quando alguém fala de
você, mesmo estando a léguas de distância, as palavras acabam chegando a
seus ouvidos. Seja como for, caso sinta as orelhas quentes, não custa
nada saber qual a receita para contra-atacar o falatório alheio: basta
morder de leve o dedo mindinho da mão esquerda para que o fofoqueiro dê
uma baita mordida na própria língua!
GATO PRETO DÁ AZAR.
Devido a seus hábitos notívagos, os
gatos, principalmente os negros, eram associados às forças ocultas e à
feitiçaria na Europa medieval: para muitos, os felinos seriam o disfarce
usado pelas bruxas em suas andanças noturnas. Os bichanos pretos eram
tão malvistos que, no século 15, o papa Inocêncio VIII - pasmem! - os
incluiu na lista dos perseguidos pela Inquisição. Birutices à parte, um
estudo realizado no ano 2000 pelo Hospital de Long Island, em Nova York
(EUA), revelou que pessoas que têm gatos pretos em casa são quatro vezes
mais vulneráveis a sintomas de alergia do que os que criam felinos de
cor clara. Isso porque os bichanos pretos têm na pele maior quantidade
de um tipo de proteína que pode agravar as reações alérgicas em humanos.
LEVANTAR COM O PÉ DIREITO.
Entre os povos da Antiguidade, o lado
direito era mais bem-visto que o esquerdo, considerado maldito. Os
romanos, por exemplo, faziam previsões observando a trajetória dos
pássaros: se voassem à esquerda, trariam dias de mau agouro. Com a
difusão do cristianismo, a fama do lado esquerdo piorou ainda mais, já
que, segundo a tradição cristã, os eleitos de Deus permaneciam sempre à
Sua direita. Com isso, passaram-se os séculos e começar o dia levantando
com o pé direito virou sinônimo de boa sorte. "Trata-se de um típico
caso de autossugestão. Caso levante com o pé esquerdo, a pessoa já se
sente vulnerável, acha que vai acontecer algo ruim e, com isso, acaba se
atrapalhando ao longo do dia", diz o professor de psicologia Antônio
Carlos.
BATER NA MADEIRA.
O costume de dar umas pancadinhas na
madeira para espantar o azar já existia entre vários povos antigos, como
os índios do continente americano. O hábito devia-se à crença de que as
árvores eram a morada dos deuses: sempre que alguma culpa os afligia,
os homens batiam no tronco para pedir perdão. Outra possível origem para
a superstição liga-se aos druidas, os sacerdotes celtas, que davam seus
toques-toques nos troncos para afugentar os maus espíritos por crer que
as árvores mandavam os demônios de volta às profundezas.
A MALDITA SEXTA-FEIRA 13.
A má fama da data está ligada a dois
mitos nórdicos. Segundo o primeiro, Loki, o deus do mal, penetrou na
morada dos deuses, onde rolava um banquete para 12 divindades, e acabou
matando o amado deus Balder. A partir daí, o número 13 virou sinônimo de
desgraça. Outro mito conta que, quando os nórdicos se converteram ao
cristianismo, a formosa deusa do amor, Friga - cujo nome deu origem à
palavra Friday ("sexta-feira", em inglês) - foi transformada em bruxa e
exilada numa montanha. Para dar o troco, ela passou a se reunir às
sextas-feiras com 11 bruxas e o demônio - num total de 13 participantes -
para amaldiçoar os homens. Para reforçar a crença, a Bíblia fala da
reunião de 13 pessoas na Última Ceia, às vésperas da crucificação de
Jesus, que se deu numa sexta-feira. A urucubaca em torno da data é tão
grande que, segundo estudo da seguradora britânica Norwich Union, o
número de acidentes nas sextas-feiras 13 é maior do que em qualquer
outro dia: temerosas com a data, as pessoas ficariam mais nervosas ao
volante. Detalhe: o aumento no índice de batidas é de - adivinhe - 13%!
O mapa da superstição
As crendices para se dar bem mundo afora.
O mapa da superstição
As crendices para se dar bem mundo afora.
• Nos EUA, quando alguns sujeitos veem
um gato caolho, cospem no dedo polegar, o esfregam na palma da mão e
fazem um desejo. Eles garantem que funciona.
• Na Islândia, se uma mulher grávida beber de um copo trincado, está correndo sérios riscos de ter um filho com lábio leporino.
• Em Roma, na Itália, cruzar com um
grupo de freiras é sinal de extrema má sorte. Para superar o azar, as
pessoas tocam as próprias partes íntimas.
• Na virada do ano, é costume na
Rússia queimar um papel com um desejo escrito, colocar as cinzas num
copo de champanhe e, então, tomar a bebida.
• Na Bolívia, bonecos de argila
recheados com dinheiro ou outras coisas atrairiam esses objetos para os
donos. Basta que um cigarro colocado aceso na boca dos bonecos seja
"fumado" até o final.
• Em Malta, as igrejas com duas torres
têm um relógio afixado em cada uma delas, só que os dois mostram
horários diferentes. Isso é feito para o Diabo não saber a hora certa da
missa.
• Na Tailândia, quase todas as lojas
são enfeitadas com um pênis de madeira, símbolo de fertilidade e
riqueza. Os objetos - alguns com até 2 metros de comprimento! - também
decoram templos.
• Para ter namorado no Japão, as moças
escrevem o nome do sujeito no braço esquerdo e cobrem com um pedaço de
esparadrapo por três dias. Após uma semana o cidadão estaria caído de
amores pela garota.
Fonte: | Revista Mundo Estranho - www.mundoestranho.com.br |